quarta-feira, 5 de março de 2014

Ler e chorar é tudo o que eles podem fazer agora, então divida tua dor, permita esse alívio triste. Ah, mais que dividir, me dê todo o teu lamento. Eu não posso mais, por vergonha, por raiva contida. Deixe as lágrimas e rubores ardentes falarem o resto. Você não pode esquecer aquele triste, solene dia quando vitimados deitamos aos pés de seu altar; você não pode esquecer quais lágrimas aquele momento fez derramar. Amor era meu único pedido. E se eu perder vosso amor, eu perco tudo.
Venha! Com vosso olhar, vossas palavras, alivie minha tristeza. Isto ainda resta para você conceder. Ainda neste peito me deixe deitar enamorado, ainda bebo o veneno delicioso de vosso olho, ofegar em vosso lábio e em teu coração ser pressionado de tudo que puder - e me deixe sonhar o resto. Ah não! Me ensine outras alegrias para estimar. 
Surgiu da piedade ou do desespero? Até mesmo aqui, onde repousa a esquecida castidade, o amor encontra um altar para desejos proibidos. Eu devia lamentar, mas não consigo fazer o que devo, estou de luto pelo amante, não pelo erro cometido. Vejo meu crime, que dói-me de queimadura à vista do próprio crime. Lamento antigos prazeres e peço um novo. Agora de volta aos céus, lamento minha última ofensa. 
Agora penso em ti e amaldiçôo minha inocência de todas as aflições já aprendidas pelo amante. Esta é com certeza a ciência mais difícil de se esquecer. Como vou me libertar do pecado, mantendo o sentido e amar o pecador, e ao mesmo tempo odiar o pecado? Como separar o adorável objeto do crime do próprio crime ou como separar penitência de amor? Tarefa sem igual! 
Uma paixão pra se desistir, para corações tão infligidos, tão lancinados, tão perdidos como o meu, antes que uma alma recupere seu estado de paz quanto deve ela amar, odiar!
Quanto deve experimentar a esperança, o desespero, a indignação, o arrependimento, a contrição, o desdém - faça tudo mas esqueça.
Eu te ouço, te vejo, exalto sobre todos seus encantos e ao redor de teu espectro envolvo meus braços num abraço apertado. Eu acordo - e nada mais ouço, nada mais vejo. Teu espectro me escapa, tão desagradável quanto você. Eu chamo em altos brados; não sou ouvido. Estico meus braços sem ti; ele desliza para longe de mim. Querendo sonhar isso de novo, fecho com vigor meus olhos; Ó doces ilusões, doces decepções, venham!
Eleve uma montanha entre nós! Um oceano inteiro apareça! Ah, não venha, não escreva, não pense, pelo menos uma vez, por mim, não compartilhe nem mesmo um repentino pedaço do que eu sinto por ti. Renego teus juramentos, desisto de tuas lembranças. Esqueça, me renuncie, deteste tudo o que me é relacionado. Olhos bonitos e olhares tentadores os quais ainda vejo. Oh, que nós nunca amemos como estes amaram.

E claro, se o destino provocar em algum futuro poeta similares e tristes pesares, iguais aos meus, condenando-o a anos inteiros de solidão dignos de pena e ídolos que ele não deve mais venerar; Se assim acontecer, quem assim tanto ama, tão bem, contém-lhe nossa triste e delicada estória. Os infortúnios bem declamados tranquilizarão meu fantasma atribulado. Ele poderá no máximo descrevê-los, aquele que os sente… 

 (Edgar Allan Poe)