domingo, 28 de junho de 2015


"A noite está gelada como o meu coração. Um vento úmido de outono varre-me a face, enquanto a lua esvaída ilumina toscamente todo o meu ser. Estou pronto, aposto para o combate, para a verdade, que de uma vez selará tudo de uma só vez; terminará e começará o novo tempo. Meus olhos erguidos prometeram-me não chorar, o meu coração não se acelerará e os poros se fecharão para todo o suor que ousar transpirar (eu sei que é mentira), impossível eu sou de controlar os meus próprios impulsos, o meu próprio desejo que é a cada dia entregar o meu corpo ao dele, na união fraterna e única que só nós dois conhecemos. E por fim, foi a hora mais longa de toda a minha existência... 


Sentados ali estávamos nós, os dois, a sós desligados do mundo e nus. Nus um para o outro, despido de todas as máscaras e maquiagens que o externo pode impor. Nus de coração, mente e alma, somente. Eu e ele - nos entregamos um ao outro e nos permitimos um ao outro que mergulhasse no fundo do íntimo de cada um. De mim ele arrancou os mais íntimos sentimentos e as angústias mais tristes. Dele eu trouxe aquilo que estava escondido e trancado no seu coração, aquilo que ninguém deveria saber. Um abraço quente e forte selou o nosso encontro. Um abraço que ainda sinto em mim só de lembrar. Eu sempre achei pelos filmes que assisti, que a cena que melhor retratava o sofrimento e a dor emocional de uma pessoa é a cena de uma mulher que de dor chora enquanto dirige um carro frio, numa noite chuvosa, as lágrimas escorrendo pela sua face delicada e tristonha, no rádio toca uma música triste de um violino solo ou um piano… Ela percorre as ruas da cidade enquanto procura algo, alguém ou um motivo que a possa fazer parar de chorar, um motivo que arranque de dentro do seu coração essa angústia, essa tristeza, esse sofrimento. A cidade corre apressada lá fora, tudo está como antes, as pessoas nas ruas se escondem da chuva e a mulher tenta se esconder de si mesma para que tão somente a dor a domine e tenha seu fim sob o corpo desfalecido de alguém."


Alguém escreveu em 12 de abril de 2013.